quinta-feira, 30 de abril de 2009

Tomografia do poeta

Doutor,
é imprescindível
que eu faça esse exame?

Não haveria outra forma
de desvendar meu córtex
sem que seja preciso
invadir meu cérebro?

Sabe, não temo as agulhas
nem os equipamentos

Temo que o senhor descubra
meus pensamentos!
Que plageie meus versos!
Que, ao injetar o contraste,
Desvende minhas contradições!

Por favor, doutor,
deixe minhas ideias e minhas rimas
São o único que tenho
de tão meus.

***

(ai, que medo)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que,desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...


Mário de Sá Carneiro

***

Obrigada, Laurene, pela perfeita indicação. Como você comentou, sim, este poema dialoga perfeitamente com o trecho que coloquei no post anterior. E com um certo "estar" de alguém.

***

Caroline, uma felicíssimo aniversário pra ti!!!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Meia culpa, meia própria culpa

"Nunca quis. Nem muito, nem parte. Nunca fui eu, nem dona, nem senhora. Sempre fiquei entre o meio e a metade. Nunca passei de meios caminhos, meios desejos, meia saudade. Daí o meu nome: Maria Metade."

(Mia Couto, o Fio das Miçangas, em "Meia culpa, meia própria culpa")
***

Dona Maria Metade passou a ser fração quando levantou-se do sofá estampado cor-de-rosa, de onde podia ver-se um limoeiro despontando seus frutos no mês de abril.

Foi embora e azedou.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Pra você. Viver mais.

Canção Pra Você Viver Mais
Pato Fu
Composição: Indisponível

Nunca pensei um dia chegar
E te ouvir dizer:
Não é por mal
Mas vou te fazer chorar
Hoje vou te fazer chorar

Não tenho muito tempo
Tenho medo de ser um só
Tenho medo de ser só um
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar

Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais
Faz um tempo que eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais

Deixei que tudo desaparecesse
E perto do fim
Não pude mais encontrar
O amor ainda estava lá
O amor ainda estava lá

Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais (repete mais 3x)

Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais
Faz um tempo eu quis
Faz um tempo eu quis
Você viver mais (6x)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Não grita

Domingo, fui parar no hospital, horas de soro, por conta de uma crise monstra de enxaqueca.

Chegando em casa, tudo bem, mas quem tem criança sabe que eles não entendem, coitadinhos, que a gente está doente. Querem atenção.

Num acesso de gritaria do Augusto, lá fui eu explicar:

- Filho, a mãezinha está com dor de cabeça, não grita, tá?
- Mamãe, fecha os zôio, mamãe!
- Mas filho, se eu fechar os olhos, vou ouvir igual os teus gritos. A gente escuta com os ouvidos, não com os olhos.

Ele pensou dois segundos e lá se foi, serelepe, a brincar. Não gritou mais.

Depois do jantar, eu ia lhe dar um pedacinho de chocolate. E me lembrei de um episódio do Bob Esponja, em que um dos peixes sai gritando desesperado atrás do vendedor de chocolate: "Chocolaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaate, eu quero chocolaaaaaaaaaaate"

Pronto, resolvi dar uma descontraída e disse:

- Gugu, vem comer chocolaaaaaaaaaaate!

A resposta:

- Mamãe, não guita que dói as zorêia.

As amigas


Já que recebi as fotos só hoje, óia aí as amigas do post anterior!!!

Smaaaaaack!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Lisi e Lau!

Foi ótimo passar a manhã com vocês, compartilhando nossas aventuras e desventuras e dando ótimas risadas!

Pode parecer meio, hummm, babaca, mas voltei no ônibus escutando esta música do Kiss, que posto a seguir, e achei que tinha mais ou menos a ver:


We Are One
Kiss
Composição: Gene Simmons

You are not alone but, how long can you run?
It's much to late if you don't know
What you've got 'til it'sgone
Once upon a time you were a child
But that was yesterday
Believed that magic in your heart
Would never fade away
But, hold your head up high
And let your spirits fly
Keep hope alive yes deep inside
And your dreams will never die

(Chorus 1)
We are one
Everywhere I go, everyone I see
And I see my face looking back at me
We are one
Everything I know, what I know is true
Everyone of us is inside of you
We are one (2x)

Ohh, take a breath, close your eyes
You're on the road again
And then you realize
They've brought you back to life again
Something's never change
But if you fantasize
You'll feel it deep inside yourself
And then you'll realize
When you feel it coming
When you hear the sound
You'll always laugh when you wanna cry
And then you'll know it deep inside

(Repeat Chorus)

You are me, I am you
What you see, is all true (it's all true)
You are me, I am you
What you see, is all true (it's all true)
(We are one) You are me, I am you (I am you)
(We are one) What you see, is all true (it's all true)
(We are one) You are me, I am you
(We are one) What you see, is all true, ohh, ooh, ohh



Com nossas dúvidas e certezas, com nossas incompreensões acerca da vida, com nossos gostos por livros, com nossas risadas e mau-humores sem motivos, com nosso não-raro estranhamento frente ao espelho, somos, afinal, aquelas que procuram ser felizes.

Obrigada por serem minhas amigas. Levo vocês no meu coração, sempre.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Facto e fato

Ouvi ontem, no noticiário, notícia sobre descontentamento dos portugueses com o tão falado Acordo Ortográfico. Há um movimento pras bandas de lá que está tentando liquidar com esse Acordo, ou seja, voltar à estaca zero. Vou me isentar de emitir qualquer opinião a respeito, pelo menos neste momento.

Não posso deixar de registrar, entretanto, o fato que me pareceu bastante interessante: as consoantes mudas caíram, segundo o Acordo. Essa regra não nos atinge significativamente, mas aos portugueses, sim. Então, a palavra "facto" (no sentido de acontecimento)passa a ser grafada "fato". Só que, pra eles, "fato", sem o "C" significa terno. E aí é uma confusão mesmo...

***

Com Acordo ou sem Acordo, é belo, belíssimo, ler literatura dos nossos países irmãos. Hoje estou lendo "O fio das missangas", de Mia Couto, escritor moçambicano. E que riqueza sua prosa poética, seus contos que fazem as vezes de missangas, entrelaçados por um tênue fio.

"Evelina: a bordadeira

(...)

Dizem que bordava aves como se, no tecido, ela transferisse o seu calcado voo. Recurvada, porém, Evelina, nunca olhava o céu. Mas isso não era o pior. Grave era ela nunca ter sido olhada pelo céu.

Às vezes, de intenção, ela se picava. Ficava a ver a gota engravidar no dedo. Depois, quando o vermelho se excedia, escorrediço, ela nem injuriava. Aquele sangue, fora do corpo, era o seu desvario, o convocar da amorosa mácula.

Em ocasiões, outras, sobre o pano pingavam cristalindas tristezas. Chorava a morte da mãe? Não. Evelina chorava a sua própria morte."


Lindo demais. É fato. Ou facto. Sei lá.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ripetendo

Le stesse parole
Le stesse parole
Le stesse parole

Non si può fare poesia
scrivendo

Le stesse parole
Le stesse parole
Le stesse parole

Non si può vivere
ascoltando

Le stesse parole
Le stesse parole
Le stesse parole

Mi fermo.

Teresa Azambuya

***

Já que o protesto da poesia acima é contra as mesmas palavras que sempre escuto, que sempre escrevo, está justificado o uso de outro idioma.

***

(Tradução de lambuja:)

Repetindo

As mesmas palavras
As mesmas palavras
As mesmas palavras

Não se pode fazer poesia
escrevendo

As mesmas palavras
As mesmas palavras
As mesmas palavras

Não se pode viver
escutando

As mesmas palavras
As mesmas palavras
As mesmas palavras

Vou parar.

quinta-feira, 2 de abril de 2009



Para Augusto Azambuya Moretto

Amo
cada uma das moléculas tuas
que gerei
em nove pacenciosos meses.

E porque chorando,
aprendeste a sorrir
E porque crescendo,
aprendeste a andar
E porque tentando
aprendeste a falar

Amo-te

Porque assim, simplesmente existindo,
fazes com que meus dias
sejam sempre
augustos
como tu.


Te amo, feliz aniversário, meu docinho.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Dosagem

Num acesso de pseudo-lucidez
Cortei todos os
vínculos,
os vícios
e os vácuos.

Fiquei sem vez.
Vivendo sóbria e só
Vaticinei minha desgraça,
e resolvi mudar de voz.

Disfarço a permissividade
E vivo.


Teresa Azambuya