Dizem que, para ser um escritor, é preciso observar o mundo. Eu olho. Mas eu fixo minha atenção no que me rodeia da mesma forma como se tenta observar uma mosca grudada na hélice de um ventilador em movimento.
Olhar para dentro não me é muito diferente. São tantos mundos dentro de mim, o que tenho e os que quero, que os olhar de forma linear é tão pouco plausível quanto manter uma taça intacta sobre a estante num dia de terremoto.
No fundo, no fundo, eu queria justificar a minha completa inaptidão para a escrita. Pensei nisso hoje de manhã, ao segurar um açucareiro cheio de formigas e ao me assombrar por não tê-las visto antes ali. Nâo que uma coisa se relacione à outra, mas, enfim, me ocorreu a ideia de que não sou nada observadora. E lembrei-me da voz de um excelente escritor sentenciando-me: não se pode ser escritor sem ser observador.
E aí, fica a pergunta: quem tem razão?
Não tenho resposta. Tenho taças, terremotos, moscas e ventiladores. E, vez por outra, faço todos esses conviverem em alguma coisa que escrevo por aí. Acho que nisso reside, não o segredo da escrita, mas o segredo da vida. E desvendar esse mesmo mistério, todos os dias, é a tarefa árdua que nos cabe, sendo observadores, escritores, leitores, ou não.
4 comentários:
É verdade que não se pode ser escritor sem ser observador, mas o importante é como o fato observado é incorporado, por quais transformações a realidade passa antes de gerar uma idéia.
Se ver formigas em um açucareiro significasse apenas o fato não haveria um escritor, mas sim alguém atento. Porém, se ver ou não ver os pobres insetos levanta questões tão profundas e gera tantos questionamentos, há sim aí a presença indiscutível de um escritor.
Existem modos e modos de se observar, Têre. Essas sentenças espertinhas e de efeito só servem pra nos confundir. Tds somos observadores, mas jamais somos iguais nesse quesito. Eu jamais verei o mesmo açucareiro que vc. A melhor e mais transparente parte disso td, é que qdo olhamos uma para outra, vemos sim, milagrosamente, a mesma coisa. É a mesma coisa que vc e o Augusto vêem qdo olham um para o outro: O amor.
Lindo, Lau.
A diversidade de olhares é, afinal, o que nos salva.
Bjs,
Calma, calma, Teresa...
Ele pediu observadores, mas não especificou do que..
Se temos aptidão para observar que o coração (nosso) dói, que o nó da mente é uma constante, e que muitas vezes nem sabemos o que fazer da vida.. Sim nós somos observadores!!!
Beijosss!!
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