quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Samba do chinelo

- Bota chinelo, mamãe! Bota! O chinelo do Gugu!
- Tá, filho, mas só no meu dedão vai caber esse teu chinelinho nº 23.
- Bota chinelo, papai! Bota! O chinelo da mamãe!
- Tá, filho, tá.
- Mamãe! Mamãaaaaaaaaaaaae! Arruma o chinelo do papai, no pé do Gugu!

E assim, nós três sambamos em círculos, de chinelos trocados, até cairmos de tanto rir.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Pecado

O Fabrício Carpinejar perguntou-me, certa vez, se eu não sentia como se tivesse cometido um pecado cada vez que publico algum texto. Na época, respondi que não, mas hoje já penso bem diferente.

Saiu na edição de ontem (19/02) do Correio de Gravataí, um artigo meu sobre leitura (pág.6). Pois cada vez que encontro alguém no corredor, dizendo que leu o tal do texto, sinto uma vontade premente de pedir perdão.

Existe alguma forma de purificação?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Como diria o Augusto:

MEDO!


(o bom é que quando se é criança, o medo é do trovão, do avião, do barulho do liquidificador. Ruim é quando o medo é do que não se conhece)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Poema redentor

Entre a falta de idéias
e o desespero de escrever
nasce este poema
assim, sem motivo
um poema sobre o nada
que já redimiu
um dia

Pelo menos um.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Esperança

Azar pouco é bobagem.

Ainda bem que a meia noite sempre chega.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Previsibilidade e circularidade

Faço uma correspondência ao pressuposto da previsibilidade, querido Manu. Se é verdade que o ser humano é previsível, é verdade que todas nossas ações compõem sempre movimentos circulares. Tradução perfeita para isso é esta música que adoro e cuja história é muito bonita:

Todo Se Transforma
Jorge Drexler
Composição: Indisponível

Tu beso se hizo calor,
Luego el calor, movimiento,
Luego gota de sudor
Que se hizo vapor, luego viento
Que en un rincón de la rioja
Movió el aspa de un molino
Mientras se pisaba el vino
Que bebió tu boca roja.

Tu boca roja en la mía,
La copa que gira en mi mano,
Y mientras el vino caía
Supe que de algún lejano
Rincón de otra galaxia,
El amor que me darías,
Transformado, volvería
Un día a darte las gracias.

Cada uno da lo que recibe
Y luego recibe lo que da,
Nada es más simple,
No hay otra norma:
Nada se pierde,
Todo se transforma.

El vino que pagué yo,
Con aquel euro italiano
Que había estado en un vagón
Antes de estar en mi mano,
Y antes de eso en torino,
Y antes de torino, en prato,
Donde hicieron mi zapato
Sobre el que caería el vino.

Zapato que en unas horas
Buscaré bajo tu cama
Con las luces de la aurora,
Junto a tus sandalias planas
Que compraste aquella vez
En salvador de bahía,
Donde a otro diste el amor
Que hoy yo te devolvería

Cada uno da lo que recibe
Y luego recibe lo que da,
Nada es más simple,
No hay otra norma:
Nada se pierde,
Todo se transforma.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Pesadelos

Eu era personagem de um filme, que procurava incessantemente o assassino de alguém. Queria puni-lo, severamente, por seu crime. Quando, finalmente, o encontrei, peguei minha gilete do bolso e assassinei a giletadas três pessoas que assistiam à cena.
Nesse exato momento, descobri que estava grávida de quatro meses.

A criança mexia-se em minha barriga, de uma forma descomunal, horrenda, um ensaio para alien, e eu me queixava de muitas dores. Corri para o hospital, numa tentativa de redenção, e lá me arrancaram a criança. Saí aliviada, mas sem ninguém nos braços.

Na porta do hospital, encontrei uma amiga e resolvi passar o resto do dia com ela. Fizemos muitas compras juntas, tomamos sorvete de laranja e jogamos conversa fora. Ao chegar em casa, olhei no calendário e vi que era 31 de dezembro, data do aniversário dela. Eu havia me esquecido completamente. Então, corri ao computador, e busquei desesperadamente uma loja que entregasse cestas de presentes, café da manhã ou algo do tipo, para que eu pudesse me redimir. O único que consegui encontrar foi o anúncio de um enterro, de duas pessoas conhecidas.

Sôfrega, corri ao cemitério. Quando lá cheguei, já estavam simulando o enterro de uma das pessoas. Simulando? Sim, simulando. No caixão, havia um senhor muito velhinho, parecido com o Chacrinha, que fez de conta que havia morrido, para representar o seu amigo morto que não podia estar ali no momento. A outra pessoa que havia morrido era uma amiga minha que faleceu num acidente de trânsito há uns dez meses. Ela havia morrido pela segunda vez. E seria enterrada novamente. O meu último comentário foi:
- Desta vez, pelo menos ela está bem menos inchada.

Acordei.

E agradeci, feliz, pelo dia estar ensolarado.