quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Realidade nem tão poética

Hoje, como tradicionalmente todos os dias ao meio-dia, o César e meu filho me acompanharam até a parada de ônibus, de onde venho para o trabalho.

Eu estava com um livro no colo, "Conceitos findamentais de poética", livro que estou lendo para a prova de seleção de Mestrado que prestarei amanhã, na PUC.

Enquanto meu filho pisava na grama e ensaiava as duas novas palavras que aprendeu: "que nojo!", eu rememorava alguns dos conceitos de poesia lírica, épica e dramática. Coisa chata, mas, enfim, necessária.

Foi quando parou um carroceiro, desses que juntam papel e garrafas pet vazias, e perguntou se nós tínhamos um cigarro. Respondi que não, e ele já puxou assunto com o César, perguntou quantos anos tinha meu guri, mostrou pra ele o "Toquinho", que era o fiel cão que o acompanhava na carroça. O homem estava visivelmente bêbado. Deixou a carroça estacionada no meio da rua.

Nisso, passou um carro vendendo "sonhos" caseiros. Buzinou freneticamente para que o carroceiro tirasse seu veículo do caminho. O homem, em vez de acatar, começou a gritar "filho da puta, filho da puta". O Augusto arregalou os olhos. E o carroceiro lhe disse: "Humpf, sonhos. Que palhaçada. Não sonha, viu, guri? É perda de tempo. Vai brincar, vai, mas não fica sonhando não.

E eu, com meu livro de poética no colo, fiquei me sentindo uma idiota. Uma perfeita idiota, eu diria.

Tá, ok, a gente não pode deixar de sonhar. Foi por isso que, ao subir no ônibus, abri meu livro e continuei estudando.

Mas, de vez em quando, dava uma espiadinha pela janela, que é pra não esquecer que existem vidas além da vida da gente. Vidas que não podemos ignorar. E nem fechar a cortina.

2 comentários:

Manooster disse...

Hoje te acompanhei até a PUC, espero que a prova tenha sido ótima.. Engraçado como a gente tem tanto a dizer, mas não consegue expressar nada além do cotidiano. É.. Às vezes o silêncio fala mais. Somos ávidos por interação e ajuda, e isso complica um pouco.
Enxugando o que realmente vale a pena, a vida é sim poesia! A vida é sonho.. Nós é que estamos bêbados a milênios.. Acabamos espantando o Vendedor..

Lisiane V disse...

Sonhar é preciso. Viver é preciso.
Pena que em muitos momentos isso parece um paradoxo.