Para ser escritor, é preciso ter talento. Inspiração, também, mas nem tanto. A escrita é um trabalho, um exercício que exige técnica, disposição, disciplina. Foi-se o tempo em que às musas era creditada a única origem possível da criação literária.
As Oficinas Literárias são protagonistas nesse novo contexto. Na Feira do Livro de Porto Alegre, em 2007, foi realizado o I ENOL – Encontro Nacional de Oficinas Literárias, que iniciou a discussão sobre a contribuição das Oficinas na iniciação de escritores. Este ano, o evento teve continuidade e eu tive a oportunidade de participar dele apresentando a pesquisa que desenvolvi acerca do papel das Oficinas Literárias na formação de autores contemporâneos.
A discussão, em suma, foi sobre o pioneirismo de Lígia Averbuck na realização de Oficinas e a velha questão da padronização de textos, que alguns ainda insistem em atribuir às oficinas.
O que me intrigou, no entanto, não foi nenhuma dessas questões debatidas, porque no próprio debate elas se resolveram. Fez-me repensar os espaços formais de criação literária aquilo que disse minha colega Karen, aluna do Curso de Formação de Escritores da Unisinos, ao sair do evento: "aqui havia pessoas de oficinas literárias e escritores independentes. E nós, três alunos do curso de Formação de Escritores. Não estamos em lugar algum! Temos a preparação e o conhecimento que os leigos não têm. Mas também não temos o aparato da Oficina."
Para contextualizar, preciso dizer que freqüentei, por um semestre, esse Curso de Formação de Escritores da Unisinos. Fiz uma disciplina que me ajudaria a entender um pouco do mercado editorial, um dos objetos de estudo desse trabalho de conclusão que referi no início do texto. O anseio geral da turma, que eu ouvia com muita curiosidade, pois eu pertencia ao curso de Letras, era: o que vou fazer com meu diploma?
Os alunos de Oficina Literária estão encontrando seu espaço, após muitos anos de luta, é verdade. Como foi mencionado no curso ontem, já criaram um mini-sistema literário: eles produzem seus textos; já há, em meio aos alunos, um rapaz que criou uma editora independente e que publica textos dos próprios colegas; e se cada um dos alunos for o consumidor desse trabalho, pronto, a cadeia se fecha.
Se é verdade que os alunos do Curso de Formação de Escritores estão em um não-lugar, querida Karen, é fato que algum espaço deve ser criado. E acredito que esse espaço somente poderá ser criado com criação literária, se me permitem a redundância. Os alunos de Oficina contavam apenas com o nome de um escritor famoso e sua vontade de escrever, aliada a algum talento. Estudaram, trabalharam e tornaram essa capacidade em resultado. Vocês têm um diploma. Os pesos são diferentes, vocês hão de me dizer. E eu respondo: sim, são. Se, por um lado, os alunos de Oficina contam com sua capacidade e com a ajuda do nome de outro (o ministrante) para poderem ingressar no mercado editorial, vocês contam com a capacidade própria, atestada pelo diploma. Estão sendo preparados para transitarem por diversos gêneros textuais, lírico, narrativo, dramático. Coisa que os alunos de Oficina não são. Vocês sabem as ferramentas das quais podem se utilizar. Conhecem a intimidade do mercado no qual vão entrar.
O diploma de escritor pode ser uma ilusão. Assim como ter o nome numa capa de livro apadrinhado por um grande escritor pode ser, da mesma forma. O que vai definir o lugar de cada um é o trabalho. Leiam muito, antes de tudo. E lancem-se à disciplina da escrita. Usem os recursos que vocês recebem na instrução formal a que assistem todos os dias. Tornem a literatura, a criação literária uma rotina. Porque os grandes escritores, as musas e a universidade só dão uma luz. O resultado, o lugar a ser encontrado, depende de cada um.
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