sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Palavras entre sons e sonhos

Este texto meu não é original da noite de ontem e tampouco é original sua publicação. Mas cabe, pela insônia que me tomou ao final do feriado...


Palavras entre sons e sonhos

Que dor horrível essa, ter de chorar em silêncio,
engolir o soluço, a almofada está molhada e eu não
consigo, sinto que perdi tudo, toda uma vida, e aquela
vez em que caminhamos ao sol, não é possível eu nunca
mais ter esse dia, já passa da meia noite e eu preciso
acordar cedo amanhã, tenho que me acalmar, vem, sono,
toma conta de mim, eu preciso parar de chorar e de
lamentar, e se eu levantar para pegar uma água, que
barulho terá sido esse, os cachorros latem lá fora e
não há nada a fazer, será que há pessoas caminhando a
essa hora, em pleno domingo, eu não fiz tudo o que
queria, fiquei devendo umas leituras e preciso pagar
uma conta da qual esqueci, mas terça vou a Porto
Alegre, não, terça não, porque eu preciso trabalhar
nesse dia de manhã, mas que inferno esse cachorro que
não pára, e aquele domingo de sol, ai, não, chorar de
novo não, todo dia a mesma coisa, o celular que
desperta, minha vontade imensa de ficar dormindo,
sumir seria uma boa solução? Não, sumir não seria, ou
melhor, seria, para alguns alguéns, que coisa mais
fora de gramática isso, mas ora, quem se importa com a
gramática a uma hora dessas, ninguém está me ouvindo
mesmo, e eu tenho que parar com essa mania de sofrer
sozinha em silêncio, de ficar escondendo minhas
angústias, mas porque raios eu estou chorando mesmo?
Se meu final de semana foi o mais tranqüilo dos
últimos tempos, é, o mais tranqüilo, porque todos têm
sido tensos e fatigantes, não tenho feito nada de
produtivo a não ser lavar as fronhas com lágrimas, mas
isso eu também estou fazendo agora, é essa angústia
que me toma e eu não sei porquê, tenho todos os planos
traçados, tenho todos os desejos delineados, então
porquê esse peito me aperta e esta solidão noturna,
acho que devia ligar para alguém, para ele, mas não
posso, já é uma hora da manhã e eu preciso dormir,
quem sabe melhor que isso, talvez me levante e vá ler
no sofá, então possivelmente me venha o sono, mas ler
Aristóteles a uma hora da manhã não é uma boa idéia,
eu estou sem a mínima vontade, isso é crueldade
demais, e essa dor na cabeça que não passa, eu preciso
levantar, este piso que estrala e faz barulho demais,
será que dá pra ouvir lá da rua? Está frio e meu
casaco eu deixei lá na sala, mania de deixar tudo
atirado, preciso levantar mas está tão frio, mas que
inércia essa que me toma, amanhã vou de laranja,
esqueci de passar minha calça, ai, tomar banho cedo e
lavar o cabelo vai ser doído, está muito frio, muito
frio, e eu acho que devia ter posto um cobertor, como
é ruim estar assim, o filme estava legal, eu estava na
cidade e me chamava, como eu me chamava mesmo, parem
de latir, seus cachorros, que eu já estou cansada,
cansada, cansada...

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