(protagonizada por Augusto, meu filho de dois anos, quase três)
- Mamãe, quem é o bananeiro?
- É quem vende bananas, filho.
(...) Os olhinhos vidraram. Olharam pra dentro, eu acho, tentando visualizar o raciocínio. Logo:
- Mamãe, quem vende ovos é o ovoeiro?
***
- Mamãe, o que os passarinhos tão fazendo?
(Era entardecer, os passarinhos voavam alucinados atrás dos insetos)
- Estão caçando mosquitinhos.
- Por quê?
- Porque é a jantinha deles, filho.
(...) Nova pausa. Os olhinhos vidraram de novo e, logo, a pergunta:
- Mamãe, depois os passarinhos vão tomar guaraná de mosquitinho?
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Ossos do ofício
Se você já leu qualquer livro de literatura estrangeira, de Dan Brown a Dostoiévski, pergunto: o que achou da tradução feita?
É uma pergunta difícil de ser respondida. A não ser que você conheça a obra no idioma original. Mas, de qualquer forma, é quase improvável que você tenha pensado de fato na mão do tradutor naquele livro ali. Geralmente, a gente pensa: o livro é bom, é ruim, o autor é bom, é ruim, gostei, ou não gostei. Ponto final. Mas, e se o autor for bom e a tradução for ruim? E se o livro de que você gostou tanto era “mais ou menos” e o tradutor fez um trabalho legal?
A minha preocupação com esse ofício não é novidade, não a atribuam ao fato de que, ora bolas, vou fazer o bacharelado em tradução e por isso comecei a pensar no assunto. Durante minha licenciatura em Letras, estudei o tema também. Li um livro fantástico, chamado “Memórias de Tradutora”, que me despertou a atenção para essa questão. A autora, Rosa Freire D’aguiar, dizia que o tradutor é como um vidro: se faz um trabalho bom, ninguém enxerga, ninguém comenta; se faz um trabalho ruim, é como se o vidro estivesse sujo, todo mundo sabe (ou pelo menos imagina) que houve algum problema. E a tradução é um trabalho árduo: é necessário, em tal ofício, muito mais do que dominar dois idiomas; é preciso conhecer muito bem o idioma para o qual se está vertendo a obra, pois não adianta nada saber o que significa tal expressão se não souber qual é a expressão que melhor corresponde no idioma para o qual se está traduzindo. E aí, queixa-se Rosa Freire: “Tanto trabalho, em troca de quê? Às vezes tenho a impressão de praticar uma atividade clandestina: o reconhecimento intelectual e social do tradutor, embora crescente, ainda é modesto; é raríssimo que alguém, já não digo elogie, mas comente o seu trabalho. Certos críticos e mesmo certos editores têm um desprezo olímpico pelos tradutores.”
Falo sobre isso também porque li, na Revista Bravo, um texto (escrito pelo Fabrício Carpinejar) sobre o autor e tradutor Mário Faustino, ao qual foi atribuída “a valorização da recriação na tradução”. Está mais do que óbvio, traduzir é um processo de recriação. Buscar saídas para aquelas palavras ou expressões que não têm tradução na nossa língua. Traduzir é a procura incessante de alternativas. Como exemplo, cito o título “The catcher in the rye”, que foi traduzido para o português como “O apanhador no campo de centeio”, do Salinger, que citei no post anterior. O tradutor teve um trabalho imenso para chegar a esse título, ainda mais considerando as exigências do próprio autor.
Bom, enfim, eu sei bem onde estou me metendo.
E você, que provavelmente nunca tinha parado pra pensar nesse assunto, pelo menos comece a procurar, a se informar, no mínimo, do nome de quem fez a tradução daquele livro estrangeiro que você tanto adorou. O tradutor agradece.
***
A propósito, por que raios eu fui inventar de fazer o bacharelado em tradução? Explico:
Meu pai, que é uruguaio assim como minha mãe e minha irmã, reclamou-me um dia:
- Tenho duas filhas formadas em Letras (minha irmã também é professora de literatura) e nenhuma delas quis dar continuidade ao legado da família. Têm a faca e o queijo na mão (no caso, falar espanhol, crescemos falando esse idioma em casa) e não aproveitam!
Pois é. Aproveitando meu gosto pela literatura latino-americana e levando em consideração a reclamação de meu pai, resolvi encarar.
Quando eu tiver esse diploma na mão, é a eles, a meus pais, que o dedicarei.
É uma pergunta difícil de ser respondida. A não ser que você conheça a obra no idioma original. Mas, de qualquer forma, é quase improvável que você tenha pensado de fato na mão do tradutor naquele livro ali. Geralmente, a gente pensa: o livro é bom, é ruim, o autor é bom, é ruim, gostei, ou não gostei. Ponto final. Mas, e se o autor for bom e a tradução for ruim? E se o livro de que você gostou tanto era “mais ou menos” e o tradutor fez um trabalho legal?
A minha preocupação com esse ofício não é novidade, não a atribuam ao fato de que, ora bolas, vou fazer o bacharelado em tradução e por isso comecei a pensar no assunto. Durante minha licenciatura em Letras, estudei o tema também. Li um livro fantástico, chamado “Memórias de Tradutora”, que me despertou a atenção para essa questão. A autora, Rosa Freire D’aguiar, dizia que o tradutor é como um vidro: se faz um trabalho bom, ninguém enxerga, ninguém comenta; se faz um trabalho ruim, é como se o vidro estivesse sujo, todo mundo sabe (ou pelo menos imagina) que houve algum problema. E a tradução é um trabalho árduo: é necessário, em tal ofício, muito mais do que dominar dois idiomas; é preciso conhecer muito bem o idioma para o qual se está vertendo a obra, pois não adianta nada saber o que significa tal expressão se não souber qual é a expressão que melhor corresponde no idioma para o qual se está traduzindo. E aí, queixa-se Rosa Freire: “Tanto trabalho, em troca de quê? Às vezes tenho a impressão de praticar uma atividade clandestina: o reconhecimento intelectual e social do tradutor, embora crescente, ainda é modesto; é raríssimo que alguém, já não digo elogie, mas comente o seu trabalho. Certos críticos e mesmo certos editores têm um desprezo olímpico pelos tradutores.”
Falo sobre isso também porque li, na Revista Bravo, um texto (escrito pelo Fabrício Carpinejar) sobre o autor e tradutor Mário Faustino, ao qual foi atribuída “a valorização da recriação na tradução”. Está mais do que óbvio, traduzir é um processo de recriação. Buscar saídas para aquelas palavras ou expressões que não têm tradução na nossa língua. Traduzir é a procura incessante de alternativas. Como exemplo, cito o título “The catcher in the rye”, que foi traduzido para o português como “O apanhador no campo de centeio”, do Salinger, que citei no post anterior. O tradutor teve um trabalho imenso para chegar a esse título, ainda mais considerando as exigências do próprio autor.
Bom, enfim, eu sei bem onde estou me metendo.
E você, que provavelmente nunca tinha parado pra pensar nesse assunto, pelo menos comece a procurar, a se informar, no mínimo, do nome de quem fez a tradução daquele livro estrangeiro que você tanto adorou. O tradutor agradece.
***
A propósito, por que raios eu fui inventar de fazer o bacharelado em tradução? Explico:
Meu pai, que é uruguaio assim como minha mãe e minha irmã, reclamou-me um dia:
- Tenho duas filhas formadas em Letras (minha irmã também é professora de literatura) e nenhuma delas quis dar continuidade ao legado da família. Têm a faca e o queijo na mão (no caso, falar espanhol, crescemos falando esse idioma em casa) e não aproveitam!
Pois é. Aproveitando meu gosto pela literatura latino-americana e levando em consideração a reclamação de meu pai, resolvi encarar.
Quando eu tiver esse diploma na mão, é a eles, a meus pais, que o dedicarei.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Por causa de Salinger
Salinger, o autor de "O apanhador no campo de centeio", deu seu último suspiro no final de janeiro agora. Confesso (com culpa, confesso) que não o conhecia, até ler reportagens sobre sua morte. E me encantei, tanto com as matérias, quanto com o autor. Fiquei sabendo, também, que ele deixara de publicar no longínquo ano de 1965 (acho que é isso, mas se não for exatamente esse ano, é por aí). Passou anos na reclusão, sem aparecer, sem publicar, sem dar entrevistas.
Não que alguma coisa tenha a ver com a outra, mas, enfim, fiquei pensando que eu não escrevo neste blog desde novembro, eu acho... Resolvi voltar. Deixei de escrever por descuido, talvez.
Peço desculpas aos meus leitores... (Depois de um período de silêncio, descobri que eles existem! Sim, alguém me lê! E fiquei feliz com isso)
Bom, feita a introdução, vamos às atualizações:
"Quarto sem janelas", meu livro de poemas lançado em outubro do ano passado, está à venda. Quem quiser, tenho exemplares comigo, é só me contatar pelo meu email teresabam@gmail.com
2010 começa com uma boa notícia:
Resolvi que ia prestar vestibular na UFRGS, e... passei! Farei o Bacharelado em Letras - Espanhol, vou me habilitar como tradutora. Lá vou eu em busca de mais um diploma...
Li coisas bastante interessantes... Eça, Machado, Ligia Fagundes Telles, Ondjaki, descobri muita coisa legal.
E voltei a escrever.
Acho que já tá bom, né?
Inté mais.
Não que alguma coisa tenha a ver com a outra, mas, enfim, fiquei pensando que eu não escrevo neste blog desde novembro, eu acho... Resolvi voltar. Deixei de escrever por descuido, talvez.
Peço desculpas aos meus leitores... (Depois de um período de silêncio, descobri que eles existem! Sim, alguém me lê! E fiquei feliz com isso)
Bom, feita a introdução, vamos às atualizações:
"Quarto sem janelas", meu livro de poemas lançado em outubro do ano passado, está à venda. Quem quiser, tenho exemplares comigo, é só me contatar pelo meu email teresabam@gmail.com
2010 começa com uma boa notícia:
Resolvi que ia prestar vestibular na UFRGS, e... passei! Farei o Bacharelado em Letras - Espanhol, vou me habilitar como tradutora. Lá vou eu em busca de mais um diploma...
Li coisas bastante interessantes... Eça, Machado, Ligia Fagundes Telles, Ondjaki, descobri muita coisa legal.
E voltei a escrever.
Acho que já tá bom, né?
Inté mais.
Por onde andei
Fiz silêncio em dias de chuva
E quando houve vento,
lancei sussurros
Tive ternura
Pressa
Medo
Quis que a Terra parasse de girar
E, um dia, meus olhos refletiram
os fogos de artifício estourando no céu
Senti amor
sede
preguiça
Ultrapassei alguns sinais vermelhos
Corri perigo
Suspirei de alívio ao chegar
E de tudo que fiz
não importa o quando, o onde, o como
simplesmente
vivi.
E quando houve vento,
lancei sussurros
Tive ternura
Pressa
Medo
Quis que a Terra parasse de girar
E, um dia, meus olhos refletiram
os fogos de artifício estourando no céu
Senti amor
sede
preguiça
Ultrapassei alguns sinais vermelhos
Corri perigo
Suspirei de alívio ao chegar
E de tudo que fiz
não importa o quando, o onde, o como
simplesmente
vivi.
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