terça-feira, 2 de setembro de 2008

Arde

Lá pelos meus quinze anos, o passatempo predileto da gurizada à minha volta era entrar de penetra nas festas das minhas amigas. Todos, mais ou menos na mesma faixa etária, tinham como principal evento social as festas de quinze anos das colegas, inclusive eu.


Depois, o tempo foi passando e aí eu comecei a ir a festas de casamento. Recebia convite para ser madrinha, ficava pensando nos vestidos que usaria, nos presentes que daria. Atualmente, estou na fase das festas de aniversário de um aninho. Não tentem calcular a minha idade. Mas é fato que, conforme o tempo vai passando, os eventos sociais também vão se transformando. E isso começa a ficar preocupante quando a gente começa a ir aos velórios.


Bem, constatado o fato, fica a pergunta: quantas histórias, quantas fases da vida são possíveis de narrar a partir de um álbum de fotografias? Vocês poderiam responder: depende da fase da vida em que ele foi tirado. Ou há quanto tempo foi isso. Se é uma festa recente de quinze anos, pode ser que as histórias sejam restritas: no máximo, a aniversariante conta uma avó falecida, uma tia que viajou pra longe. Já do álbum de uma festa de bodas de ouro, já daria pra contar bastantes histórias.


Meu filho fez um aninho em abril. Só se passaram cinco meses. Não haveria praticamente nada de novo pra se contar, afinal, se passaram apenas cinco meses! A lógica, entretanto, não funcionou, nesse caso.


Naquele álbum do Ursinho Pooh, estava uma amiga e seu filho, que morreram num trágico acidente de carro. Um casal, que olhava sorridente para a câmera, hoje tem os olhos cegos de ódio um pelo outro. Uma menina, que chutava a barriga de sua mãe, já enche a casa com seu chorinho de recém nascida.


A vida arde e não tem explicação, disse o cantor.


E eu assino embaixo.

4 comentários:

Tiago Buarque disse...

"E isso começa a ficar preocupante quando a gente começa a ir aos velórios."
hahahahhha, talvez também visitas de hospital

Anônimo disse...

A vida arde mesmo, né? Lembra do meu pai? Da descoberta da doença até a morte, não chegou a completar 4 meses. Uma loucura. Aproveitemos então cada vez mais os nossos dias. beijos fê (perdi a senha do meu blog :(((

Unknown disse...

Ah estes textos...
Fotos podem fazer voltar no tempo, lembrar de coisas.. um show, um tango..
Nossa isso foi naquele dia que...
Bah quanto tempo faz esta foto, lembro que naquele dia...

O tempo voa.. escorre pelas mãos...

Lisiane V disse...

pois é, esses fatos marcam passagens da nossa vida e faz com que a gente veja que muita coisa passou. lendo esse teu texto, lembrei de um fato esquecido q me comoveu. Um senhor de uns 80 anos, cheio de vida, com mais planos q muita gurizada por aí, me contou q se deu conta que estava nessa 'fase' qdo olhou a agenda de telefones e a maior parte dos nomes de amigos estavam riscados, eram os amigos já falecidos. Vi a agenda e os nomes riscados eram muitos, era triste ver aquela agenda. mas enfim, é a vida, uns vão e outros chegam.