Quadros de bibicleta são perfeitos para se pintar, a óleo, o retrato dos que andam a esmo.
A frase veio antes da cena.
Era sol de meio dia, quando muitos como eu injetavam seus olhos no chão, entre passos largos, e espraguejavam o número de blusões postos pela manhã.
Sob o mesmo calor, o menino de olhinhos pretos, tão escuros quanto sua esperança no futuro, retratava quadro a quadro o passarinho na árvore, o carro veloz passando a seu lado na avenida, a moça bonita e alta de óculos escuros, as costas largas de seu pai, o vento barulhento.
Vez em quando, a sacola a seu lado farfalhava, e a sua visão era ocultada pelo ramo de beterraba que se estendia à sua frente.
O menino estava na garupa da bicicleta. A garupa era uma caixa de verduras. E o menino era franzino e cabia dentro da caixa, entre as sacolas de verduras de seu pai, que ia pedalando sofrivelmente lomba acima.
Os olhinhos franzinos saltavam entre os ramos das beterrabas. E tomavam para dentro de si o mundo inteiro.
Um comentário:
Pois é Teresa, sou novo por esses pagos e fico feliz de saber que posso conferir aqui essa tua sensibilidade para captar ( ou inventar)fragmentos de vida espalhados pelo cotidiano e que passam invísiveis aos olhos da maioria. Bom, é por isso que tem gente que é chamada de poeta. Beijo.
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