Um dia veio a nuvenzinha
Era tão lindo vê-la!
Passeando sobre o teu telhado...
Ficavas na janela a adivinhar-lhe
Os formatos
Peixe-bagre, centopéia, um leitãozinho!
E o que mais?
Ela gostava do teu céu
Ficava horas a desfilar, palhacinha
Transformando-se conforme teu sorriso
Espelhando a tua alegria
Naquele branco imenso, de pele feita
De água e ar
Mas um dia ela escureceu
E choveu, choveu
Juntava os baldes d’água e
Chuá! Chuá!
Tu não mais aparecias,
Ela desmanchava-se ainda mais
Se realmente te importasses...
Ah, se te importasses!
Correrias a fechar a janela da tua casa
Teus passos estralariam o piso, apressados
E da janela lhe dirias:
- Não chove, nuvenzinha,
Não estraga o meu carnaval!
Que eu não quero o sol a tostar-me a pele
Mas também não quero chuva
Pra desandar minha fantasia...
Mas não, não se ouvia nada
Só o vazio da casa,
A janela aberta e a água entrando.
E de tanto chover,
Ficou a nuvenzinha tão leve
Que foi arrastada pelo vento
- Não fica mais aí!, dizia-lhe o sopro
E ela foi, cinza, triste
Se foi, se foi
E quando chegaste à janela
Viste o sol, nada mais
A nuvenzinha tinha ido embora
Deixando como marca
Apenas algumas gotas
Na vidraça dos teus olhos.
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