sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

As duas páginas escritas na madrugada (outra insone!) foram pro lixo. E o caminhão recolheu todas as verdades lançadas na folha branca, todo o desabafo, todo o mau-humor.

Mas aí está, reler o que já foi escrito também tem lá suas vantagens. Publico aqui um texto meu de setembro de 2003, tão atual para o dia de ontem...

Fantasmas
A quarta-feira findou com minha vontade urgente de vomitar palavras. Em tudo e em todos, os impropérios mais escabrosos. Danem-se a moral e o costume, essas coisas idiotas inventadas para me aprisionar e me sufocar todos os dias.

Cansei, sabes? Cansei de ser certinha, de exigir a perfeição, de querer levar o mundo nas costas e de não saber dizer NÃO. Desta fábula, cansei de ser a fada. Eu não quero virar bruxa, isso não combina comigo, mas eu exijo o direito de ser ouvida. Ao menos ser levada em consideração.
Os fantasmas assombram, insistem em me assustar. Confesso que, às vezes, sinto medo. Hoje é um dia em que não quero dormir com a luz apagada. Na verdade eu não tenho nem sono. Eu preciso mesmo é sair por aí, caminhar léguas sem destino, tomar um sorvete, tocar meu violão e ver o mar. Ou, talvez, voar para um lugar muito distante, ver pessoas cujo lado obscuro e sórdido eu ainda não tenha conhecido.

É muito ruim ser tocada pelo vazio. E pior ainda é desacreditar das pessoas. Saber que hoje te sorriem e amanhã injetam seu veneno em tuas veias, sem dó nem piedade. Porque as coisas têm de ser assim? Eu sei que tu não tens a resposta, e tu me olhas e ris, talvez me achando uma tola. Ou talvez querendo descobrir-me. querendo percorrer as curvas da minha alma. Desculpa, mas hoje minha essência alçou vôo e esqueceu-se de voltar.

Eu sei que tu não tens culpa do meu péssimo dia. Eu sei disso. Mas eram tantas as assombrações que o vagão do meu trem-fantasma desgovernou. E eu jorrei feito gêiser, sem me dar conta de que estava fervendo, sem me dar conta de que estava te queimando. Eu não gosto de ser assim. Eu não sou assim, fera enjaulada há dias com fome. Preciso apenas de um pouco de paz, para poder ver a claridade e sentir que nem tudo está perdido, já que os pássaros ainda cantam, já que as crianças ainda sorriem e não sentem medo de fantasmas, porque estão seguras.

O sono vem vindo, e com ele o torpor e a dormência característicos de quem passou mal à noite. Talvez me apagar por algumas horas seja um bom remédio para curar a dor no estômago. Só quero te pedir uma última coisa: deixa ligada a luz do corredor, que eu ainda estou com medo do escuro.
***
Espero, há dias, que as boas palavras não de estancassem na ponta dos dedos, nem fossem ocultadas em inferências. Mas deveria ter aprendido, esperar é algo que não devo mais fazer. Expor rigidez é mais fácil para ocultar o que se sente.
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A todos os meus amigos e amigas do coração, Feliz Nataaaaaaaaaaaal!

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