terça-feira, 19 de julho de 2005

Crônica

Este texto foi por mim escrito em 10/10/2004. Relendo-o, achei que tem tudo a ver comigo nesta terça-feira gelada.

Tentativa de auto-controle
A ansiedade roça sua gelidez em minha pele, causando-me o mais profundo arrepio na espinha. Convulsionaram-se meus pensamentos e já não sei mais para onde dirigir meu olhar, se para as imagens que crio na memória ou se para a inútil realidade que me circunda.
Estranha sensação essa. Cerrar as pálpebras e assistir às cenas da história que não foi escrita e que ainda paira longe de ser vivida. Querer que o irreal adquira a consistência do tocável e frustrar-se a cada nova investida. Encontro-me numa espécie de limbo, onde não realizo o que imagino e muito menos imagino tudo o que deixei de realizar ao permanecer nessa letargia.
Recordo-me, com certo exagero e em flashes, dos breves momentos vividos, tentando dar às frases pronunciadas uma entonação diferente, para que os passos conduzissem a outro lugar e a outro desfecho. Arrependo-me por não ter dito o que queria, por não ter sido mais severa, por não ter tido a coragem de responder da forma ideal. A falta de palavras causa dor mais pungente do que os fatos, porque vem acompanhada da incerteza.
E tentam apresentar-me consolos construídos sobre lugares-comuns, cheios de falsos argumentos. Embora queiram me convencer do contrário, não há experiência que controle a angústia do não-vivido. Todos traem-se em vertentes de titubeios quando o desejado exerce sua supremacia sobre o alcançável.
Gostaria de gerenciar plenamente o curso de minha vida, sem incidir em erros. Algo completamente contra as leis da existência. E desejaria algumas horas longas, desprovidas de hesitações, para que eu pudesse derramar meus anseios sem passar por ré. E queria poder ter descido a ladeira sem precisar esconder sob temas banais o sorriso nervoso que esperava uma palavra mais tenra e menos superficial. E preciso frear a aceleração em que estão meus pensamentos, para que eu não seja atropelada pelos impulsos que me acometem, desgovernados.
Ansiedade. É o que tento aprisionar nas bordas deste papel e é o que provavelmente me acompanhará até o próximo amanhecer, quando então o sol servirá como paliativo, aquecendo meu corpo e minha mente e aliviando-me deste intenso frio que percorre a longitude de meu ser.

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